Texto publicado em 2017 no projeto Mulheres Super-Heroínas, da GE Health
Diz a internet que o Outubro Rosa nasceu em 1985, quando organizações do terceiro setor se juntaram à Sociedade Norte-americana do Câncer para promover a prevenção do câncer de mama – mais conhecida como mamografia para nós, mortais.
O movimento espalhou-se pelo mundo e hoje é uma data que faz parte do calendário anual oficialmente. Já em 1993, Evelyn Lauder, vice-presidente da Estée Lauder Companies, criou a Fundação de Pesquisa sobre o Câncer de Mama e promoveu o uso do laço rosa como símbolo da luta contra o câncer de mama.
No Brasil, graças à Femama, houve, a partir de 2006 ou 2007, a realização de blogagens coletivas para espalhar consciência e informação sobre a doença entre as brasileiras (e brasileiros). E é aqui que começa a minha história. Como blogueira e fundadora do LuluzinhaCamp, eu escrevi muito sobre o Outubro Rosa e a prevenção do câncer de mama. A gente escrevia, compartilhava, comentava, fazia a informação circular no ambiente mais restrito que ocupávamos.
Foi com este movimento que entendi as razões das consultas anuais com o ginecologista serem tão importantes. Afinal, é este o profissional que vai acompanhar a nossa saúde e solicitar os exames que salvam as nossas vidas. Assim, desde o início, criei um novo hábito: visitar a minha ginecologista e realizar exames de rotina periodicamente.
Outubro Rosa: da campanha para o consultório
E assim seguiu-se a vida. A cada ano, uma nova camada de informação e conhecimento ia se adicionando ao que já estava dito no ano anterior. Até que nos exames de rotina de 2011 eu vi uma massa no ultrassom e entendi, na mesma hora, que eu estava com câncer de mama. O médico do ultrassom, claro, não confirmou. Mas ali eu já sabia. No retorno com a minha ginecologista, a indicação de procurar um mastologista já indicava problemas. Não tinha como fugir: foi o único problema dentre todos os exames.
O mastologista – um amigo da família – indicou uma biópsia, cujo resultado abrimos juntos no início de março de 2012. Naquela sexta-feira ensolarada tomei o maior choque: carcinoma ductal invasivo grau II. Entre o choque e a consciência, a única coisa que me ocorria: a Nuna se curou. A Charô se curou. Eu lembrava da silhueta da Nuna, grávida, no primeiro encontro do LuluzinhaCamp, quando a gente se conheceu. E aí toda a informação que tinha descoberto – somada à informação dos amigos médicos, da equipe que planejou o meu tratamento e mais a experiência das mulheres que sobreviveram ao câncer de mama – foi o caminho, a verdade e a luz que eu precisava.
Os mitos sobre o câncer de mama
Como tudo o que envolve saúde da mulher, o câncer de mama também chega cercado de mitos e diversas tentativas de alienar as mulheres acerca de seus corpos, das questões de saúde e dos cuidados que recebem, seja no sistema público ou no privado. Das coisas que aprendi ao ter câncer de mama, a mais importante foi falar sobre ele sem papas na língua e questionar cada passo ao longo do caminho. O mais importante nessa hora: há de ter coragem de viver. O câncer ainda carrega o estigma de ser “aquela doença”, de ser mortífero. Não é necessariamente morte certa – embora repetir que somos mortais seja fundamental. É preciso, em primeiro lugar, deixar preconceitos e ideias prontas de lado e enfrentar a realidade como ela é.
Quem sempre tem a melhor informação é o profissional de saúde. Seja o mastologista, o oncologista, o nutricionista, o fisioterapeuta, o psicanalista. A Nuna, minha amiga sobrevivente e farol do meu processo, me ensinou a fazer Lian Gong, a prática chinesa também conhecida como 18 terapias. Salvou os movimentos do meu braço operado – na cirurgia, foi feito o esvaziamento de axila, que retira gânglios e deixa o membro operado com diversas sequelas, exigindo cuidados permanentes pelo resto da vida.
Outra dica de ex-paciente de câncer que me salvou: faça a reconstrução junto com a cirurgia, se for possível. Foi – e realmente foi – o que ela me contou: em vez de cirurgia de câncer, acabou se tornando uma plástica, e o meu seio, embora com cicatriz visível, ficou tão bonitinho que passei um tempão mostrando para quem quisesse ver!
Como prevenir o câncer de mama
Sim, é importante conhecer seu corpo, você mesma. Nós, mulheres, temos poucas informações sobre nós mesmas – e somos educadas para não questionar, explorar o próprio corpo ou dizer não. O Outubro Rosa é importante porque é uma campanha que alerta as mulheres para a importância de se cuidarem, serem donas de si, conversarem sobre suas questões, angústias e dúvidas. Entre si, com profissionais de saúde, na família.
Segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer), entidade do Ministério da Saúde que reúne dados e define políticas públicas para o tratamento, no biênio 2016/2017 haverá 420 mil novos casos de câncer no Brasil. Entre as mulheres, o câncer de mama é o mais frequente (cerca de 58 mil casos/ano). A taxa de mortalidade, entretanto é alta: 14 mortes por 100 mil mulheres, em 2013. Essa alta taxa está na conta do diagnóstico tardio.
As dicas para ter uma saúde de qualidade também ajudam a facilitar o diagnóstico precoce e, quando necessário, o tratamento: alimentação saudável, prática regular de atividade física e manutenção do peso ideal. São fatores de risco: idade, vida reprodutiva, comportamento, estilo de vida. Não ter filhos ou ter o primeiro filho após os 30 anos aumentam o risco de câncer de mama. Amamentar longamente, por outro lado, reduz o risco.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que o câncer de mama é a doença que mais atinge as mulheres em todo o mundo, com taxas de mortalidade variáveis de acordo com o desenvolvimento do país. São muitos subtipos de câncer de mama, sendo o mais comum o carcinoma ductal invasivo (80% dos casos). E a orientação da OMS para a prevenção é: mamografia. Não vacile: faça acompanhamentos regulares, informe-se e fique atenta. Segundo o INCA, são sinais e sintomas do câncer de mama e pedem consulta imediata no serviço de saúde:
- Nódulo (caroço), fixo e geralmente indolor: é a principal manifestação da doença, estando presente em cerca de 90% dos casos quando o câncer é percebido pela própria mulher;
- Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja;
- Alterações no bico do peito (mamilo);
- Pequenos nódulos nas axilas ou no pescoço;
- Saída de líquido anormal das mamas.
Hoje, eu estou contando a minha história porque segui as regras de prevenção que aprendi no Outubro Rosa. E estou viva. Viva!
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