O Descabeladas nasceu no susto do susto. Eu descobri um câncer de mama. E convoquei azamigas para o suporte. Elas foram vindo na ordem da vida, do jeito que foi. Fez-se um grupo de mulheres guerreiras, que me apoiaram ao longo de um caminho que só está no começo.

De novo foi com Gabi, Lets e Denize que resolvi enfrentar a possibilidade de perder os cabelos. Como sempre tive cabelo curto, não havia grandes neuroses, apenas a necessidade de tomar as rédeas do processo em minhas mãos.

O que eu batizei de Careca is Beautiful entre nós virou Desacabelar, descabeladas. A Let trouxe a música tema e a roda de amizade se formou em torno de mim. Gabi, lindona, trouxe Andrew e #aos8, dois grandes amores. E sei que Pequeno Bagre, companheiro de Letícia só não veio porque imaginou que seríamos só nós, mulheres.

Com esta “turma” que é muito, muito maior, saibam, eu pude enfrentar sorridente a primeira sessão de quimio. E já estou a caminho da terceira.

O Descabeladas é um espaço pra luz, pra transformações. É resultado das artes de cada uma de nós. E a prova de que só morre quem vive – e dureza mesmo não é adoecer, mas se esquecer de viver. Do meio da dor – e do grito – vem a roda de de amigos (porque nossos homens especiais também participam) que me acolhem, me cuidam, me oferecem música, ombro, arte, amor, sorriso.

É por conta deles que posso agradecer cada mal estar e estranheza do tratamento, com um sorriso no rosto.

E é com eles que posso andar de cabeça levantada, careca, sem disfarces, e tentar formular e reformular minha própria vida.

Nada disso caberia no Ladybug Brasil. E ganhei da Cria Real (encarnada em Denize e Marcelo) logo, montagem e organização deste cantinho aqui.

Usando nossas artes, saberes e bem querer, nos juntamos. E no fazer, descobrimos que esta união, este “dar as mãos” é poderoso, curativo e muito especial. A gente já tinha esta prática, da união de mulheres que conquista muito, de outros lugares e ambientes que cultivamos na internet e na vida.

É esta a sabedoria, em nossa opinião, que pode fazer luz em plena escuridão. Que ajuda a ser feliz mesmo quando as cicatrizes estão frescas e doloridas. Que permite rir, sorrir, agradecer. Que encontra a música para cantar e seguir em frente.

No final, a gente conquista a própria vida, de forma responsável e absolutamente livre. E, com a vida conquistada, podemos olhar nos olhos da morte e saber quem ela é.

Com o conhecimento, o apoio e o amor, tudo ficou mais leve e possível. E nós acreditamos que é possível replicar esta experiência.

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