



O vento passa e vai trazendo flores. Aquele artista plástico que alugou seu apartamento para mim (e o carioca safado). A gente quebrou a cama dele, imaginem, e ele continuou amigo. Foi vizinho, interrompeu diversas cópulas, rimos, rimos, rimos. Também trabalhamos e resolvemos coisas juntos. Ele é um companheirão. E me trouxe pelo menos mais duas. A primeira foi a baixinha, acho, que me deu uma prensa na festa junina. Até hoje a gente lembra e ri. A segunda é a companheira dele, que já foi minha chefe e me levou pro trabalho mais desafiador da vida. Nunca acreditei que conseguiria acordar às 5h30 por meses a fio. Atrasei uma única vez, porque estava doente e, salvo engano meu, faltei outra por motivos outros. No 7 de setembro de 2001 cancelei a minha folga pra ir lá ajudar a cobrir o horror do 7/11.
Nas andanças da vida encontrei numa madrugada um jornalista-crítico-diretor de cinema numa banca da Sumaré. Somos amigos até hoje. Ele e a sua companheira estudiosa e sábia são dois queridos que me protegem, previnem e ajudam nas maiores sinucas de bico.
Na vida de jornalista também houve aquela frila que cacei numa coletiva. Uma morena misteriosa e linda. Fomos nos aproximando, aproximando e… nos tornamos amigas-irmãs. E ela me trouxe um amigão, o suíço magrelo, que é mais próximo de mim que os meus irmãos de sangue.
E da internet?

Houve os blogs, os grupos de discussão, o Google Reader. Tantos amores. Tem amorecos que brotaram da passagem relâmpago pelo Submarino que ainda circulam hoje: uma patinha e um arqueiro. Vi os dois envelhecerem e construírem suas vidas. E isso me dá um prazer gigante. É emocionante ver gente amadurecer. Parece mágica, mas é vida. Pura vida.
Bom, capinando a internet do meu jeitinho encontrei gente, muita gente. Do primeiro BarCamp ainda resta o narigudo desenhista, tocador de violão, cozinheiro. Do primeiro BlogCamp? Tenho contato com alguns, mas essa coisa que acontece de tempos em tempos, sem trocas que importam ou tocam.
Importantes mesmo são as minas – e entre elas as manas. Aí, meu bem, a coisa fica grande. Não cabe nas duas mãos. Tem gente do Brasil inteiro, de norte a sul, de leste a oeste. Tantas mulheres queridas. Por onde começar? Pela minha deusa uruguaia gaúcha; pelas cariocas maravilhosas; pelas muitas nerds paulistas e paulistanas? Pelas arrobas do Twitter que se tornaram queridas? Pelas professoras que me apresentaram o feminismo e me politizaram? Talvez seja melhor começar pelas que compartilham o amor por gatos e animais? Ou pelas que moram além do oceano e são tão próximas? Também posso falar das mulheres que pensam e defendem o meio ambiente, desde antes do desastre climático começar a acontecer. Existem as que são mães e mostraram as dores e delícias (ah, o clichê bão) dos filhos e me deram uma legião de sobrinhos e sobrinhas.
Foi na internet que descobri o outubro rosa, onde comecei a falar sobre câncer de mama, muito antes de encarnar a doença. Também na internet construí esse grupo gigante de mulheres potentes e contei a minha história do câncer como pude. É na internet que aprendo novas ferramentas e jeitos de me comunicar, outras formas de reunir pessoas, imagino futuros.
Também é a internet a fonte dos meus desesperos e desesperanças. Como é a janela que uso para ver o mundo há mais de 30 anos, vejo o mundo degringolar, sei que a solução é uma só e percebo que será muito difícil convencer a humanidade a passar o camelo pelo buraco da agulha. E tá tudo bem.
Porque neste mundo em que o digital se tornou mais uma camada, sou parte. E isso é tudo o que podemos ser: partes, partícipes, construtores de vida e de futuros possíveis.
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2 Comments
Add Yours →Ah, Grandona, que família maravilhosa. Que prazer fazer parte dela. Tantasmemórias, tanta saudade, tantas histórias!
Aprendemos e continuamos aprendendo juntas, compartilhando, somando, fazendo a vida prestar.
Eu te amo muito,.
beijo, menina
Te amo mais, querida. Obrigada, sempre, pelo carinho e pela presença.
beijos