Viver com Câncer: Inspirando Esperança e Futuro

Câncer é uma doença séria. Ameaça. Mata. Machuca. Deixa marcas profundas no corpo, na alma, nas atitudes. Uma doença ameaçadora de vida, como tantas outras que andam por aí. O tipo mais frequente nas mulheres é o de mama, seguido por útero e ovários, nos diz o INCA. Entre os homens, próstata. Sim, as glândulas reprodutoras cutucam a nossa humanidade conforme a gente estende a permanência na biosfera.

A minha questão aqui não é a seriedade da doença, a dificuldade do tratamento, nada disso. Tem gente que associa câncer a medo, pânico, correria. Por ser sério não pode ser cercado de alegria, delicadeza, brincadeira? Tem que ser escondido, não dito, chorado, sofrido, de cara fechada?

Uma metástase desejante?

Eu desafio essa postura. Me nego a sucumbir ao medo e à escuridão. Estou a bordo de uma doença séria e tentando sonhar futuros, como fez a AnaMi, uma inspiração. Sei que ali à frente me aguarda o fim, principalmente agora que sei que o meu câncer não tem mais cura. Ele se recusou a ficar em remissão e saiu andando, quis colonizar meus ossos e o meu fígado.

Como meu câncer, eu também vivo andando. Adoro andar pelas areias, à beira mar. Pelos parques, pelas ruas. Quantas vezes caminhei avenidas inteiras, só andando e olhando e sentindo? Ainda faço isso – menos porque as ruas andam mais agrestes, o clima menos convidativo em São Paulo, que me parece cada vez mais cinza e menos verde.

Mas a notícia da metástase me fez desejar futuro. Sonhar futuros. Me perguntei: existem futuros pra mim? Quais?

Para além do dia a dia pautado em torno da necessidade de tratamento – o que significa deslocamentos até meu centro de referência, o IBCC da Mooca, exames, retirada de remédios, consultas, etc. É preciso cuidar da alimentação, descansar, fazer exercício. Se o esqueleto está determinado a priori, isso não significa falta de liberdade para escolher e sim que construo meus sonhos em torno desta determinação.

Hoje sou voluntária da Casinha, a Casa Lavanda, um dos legados de AnaMi. Participo dos grupos da dra. Ana Cláudia Quintana Arantes e frequento a Casa do Cuidar, que promove encontros entre pacientes que vivem com doenças ameaçadoras da vida.

Eu e Sandra Gonçalves na Casa do Cuidar

Guerreira, não. Vivente

Não é raro as pessoas saberem da minha condição, admirarem o bom humor e disposição e soltarem os velhos “guerreira”, “lutadora”. Primeiramente, fora neonazis. Segundamente, não estou lutando contra nada. Estou vivendo.

Ter uma doença ameaçadora é um desafio, sim. Eu enfrento o meu luto – perdi a saúde, lembram? -; as dificuldades do sistema de saúde público e as minhas próprias dúvidas. E tudo isso alimenta a disposição para viver e resolver dilemas e desafios.

Referências

Se você quer se informar sobre câncer ou doenças ameaçadoras da vida; tratamentos e/ou como apoiar uma pessoa amada que faz este caminho, deixo aqui alguns lugares seguros para consultar.

Casa Lavanda: um grupo fechado onde pacientes e cuidadores com doenças ameaçadoras da vida encontram acolhida e informação.

Oncoguia: a ONG é um portal de referência sobre todos os tipos de câncer. Foi um farol para mim no tratamento primário, informando sobre direitos e tratamento. E agora, no pós-pandemia, mantém o que considero ser o lugar mais bacana ever: a Roda de Conversa. Lá, pacientes e cuidadores encontram ambiente seguro para compartilhar angústias e soluções que encontramos.

Instituto Vencer o Câncer: fundado por oncologistas, o instituto oferece muita informação de ótima qualidade para quem consegue ler mediquês.

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